Is this the real life? .-.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Lembranças

Por @ Ligiane em segunda-feira, outubro 12, 2009 0 comentários alheios
Eu ainda tinha esperanças que o tempo pudesse regredir e que trouxesse de volta todos os insólitos momentos que vivi divinamente. Que fizesse-me viver o presente do passado, que me devolvesse a auspiciosidade e o entusiasmo ímpar com que sortia-me de meus dias.

Mas como isso ia contra todas as leis da natureza, passei a contentar-me com o que me resta, com o que tornei-me. Não, eu não me arrependo de nada que fiz na vida, costumo dizer que tudo que minhas mãos puderam tocar, que meus olhos puderam ver, foram coadjuvantes dessa passagem milimetricamente guiada e que na qual finalmente aproxima-se do fim. Digo finalmente, porque, para alguns assim como eu, é longo de mais o tempo em que se vive em um mundo onde você já não dispõe-se da jovialidade para se acompanhar a jornada inerente.

Tornei-me adulto precocemente, devido a necessidade que me pôs diante da dificuldade. Cresci observando meu pai mergulhado em suas mais inertes tristezas, a saudade que nasceu e fincou com raízes em seu peito quando minha mãe se foi. Esse, tenho para mim, foi o dia mais triste de sua vida, para mim também foi, mas costumava engolir meus sentimentos, por mais profundos que fossem. Costumo dizer que meu pai morreu de amor, minha companhia amenizava sua dor, mas os olhos azuis que herdei de minha mãe, pareciam reabrir aquele buraco que ele guardava dentro de si. Peguei-o várias vezes olhando-me com um sorriso estonteante; eu ficava feliz vendo-o sorrir daquela forma, ao passo em que também ficava triste, pois sabia que aquele sorriso era vazio.

Vi que minha infância realmente me deixara, quando fui presenciar os horrores da guerra. Naquele tempo, era honra representar sua pátria em uma batalha. Perdi amigos, companheiros de luta, mas desde pequeno, como dito anteriormente, aprendi a controlar meus sentimentos. Sofrer calado é corrosivo. Se eu não retornasse vivo, não faria diferença. Voltar àquela casa cheia de lembranças, sem meus pais me esperando no portão prontos para me descançar em seus calorosos abraços, dando graças a Deus por me verem são e salvo, era excruciante. Sim, preferi eu ter morrido na guerra, mas minhas vontades, são apenas minhas vontades.

O que me sobrou foram essas minhas lembranças. Alimento-me delas todos os dias e nunca as deixarei morrer enquanto minha vida ainda for permitida. Tento esquecer que o tempo corroeu-me e desperto a infância que jamais se apartará de mim.


"EM HOMENAGEM AO DIA DAS CRIANÇAS,
POIS TODOS GUARDAM UMA CRIANÇA DENTRO DE SI."