Is this the real life? .-.


quarta-feira, 31 de março de 2010

Sintonia

Por @ Ligiane em quarta-feira, março 31, 2010 0 comentários alheios

A onda quebra suas águas frias contra a areia morna e molha meus pés nus numa sintonia entre humano e natureza. De sandálias nas mãos, cabelos ao vento e braços abertos, deixo que a brisa fria traga o estupor do cheiro de liberdade que transpassa por entre meus dedos.

Sinto o enaltecimento do momento em que trago de mim o que eu talvez desejo ser. Escuto o vento conversando com as folhas das árvores e despertando a força da rebentação das ondas. A visão de um céu azul e o farfalhar do cascalho rolando pela areia.

O cantar das gaivotas são como silvos de um infortúnio pensamento, que sibilam dentro de mim num tom agudo que me faz tapar os ouvidos como num gesto desesperado de não ouvir a mim mesma. No fundo queria ser como aquelas aves que sobrevoam a enseada; seria capaz de trocar qualquer regalia por um par de asas; talvez o vôo me levasse sem destino por um céu infinito onde não importa o que digo, o que penso, o que falo.

Deito-me na areia quente, sob um sol que não me permite olhá-lo diretamente. Seus raios penetrantes saltam sob meus olhos deixando-me como aquele que recobra a visão e enxerga pela primeira vez com um esforço desdobrado de quem desacostumara-se a claridade.

Fecho os olhos e imagino-me esticando os braços tão longe, que posso pegar um tufo de nuvem que como fumacinhas ondulantes, escapam por entre meus dedos. É mágico, surreal.

Mais além, de ouvidos aguçados, ouço o sibilar dos passarinhos banhando-se sobre as pedras, onde podem se aproveitar das gotículas geladas que se chocam sobre as rochas e divertem-se escorregadias sobre suas penas.

É como se um cantarolar suave de uma voz sublime vindo do mar me arrastasse numa sintonia desvairada entre real e imaginação.

O sol já se põe no horizonte, o céu mostra-se num crepúsculo alaranjado, como que pintado cuidadosamente. Os raios cansados perdem força e se esvaem lentamente atrás da retidão do mar calmo, refletindo no oceano e construindo um breve caminho avermelhado sobre as águas; um tapete de ondulações que se movem à brisa lenta.

Uma chuva fina e gelada me carrega num frio abstrato, que me faz encolher e partir de braços cruzados. Junto com as gotículas que caem do céu, vem ela, a noite; como num balanço de partida, companheira, que desperta medos e imaginações. Uma noite sem estrelas, sem lua, nublada, chuvosa. Que veio para resfriar o calor do dia, a sintonia que se estendeu sobre mim.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Um Anel para a todos governar

Por @ Ligiane em segunda-feira, março 22, 2010 3 comentários alheios
Pegue um quantidade generosa de aventura, com um toque sutil de humor, misture a uma dose de mitologia nórdica e transforme tudo isso em 453 páginas de um mundo singular, complexo, que é capaz de criar existência na mais profunda imaginação de quem lê. Essa é a receita do sucesso épico do universo da trilogia de O Senhor dos Anéis, criado pelo escritor britânico J.R.R. Tolkien.

O contexto é complexo, Tolkien se usa de uma descrição maçante, transmitindo cada detalhe do cenário apresentado. Percebe-se o apego do autor pela natureza ao descrever os lugares, as habitações, o clima, o espaço.

... brilhavam como uma névoa sobre a rica tonalidade da grama. Acima de tudo o céu estava azul, e o sol da tarde batia na colina e lançava sombras compridas e verdes embaixo das árvores.

(...)

Naquela região, no inverno, ninguém podia sentir saudade do verão ou da primavera. Não se podia ver qualquer defeito ou doença ou deformidade em cada uma das coisas que cresciam sobre a terra.

Vale a pena cada página virada. A genialidade e criatividade de Tolkien o levara a criar seu próprio mundo, com personagens singulares divididos em genealogias distintas entre si, com características peculiares. Somos apresentados aos elfos e aos hobbits, dois povos diferentes, o primeiro habita nas florestas de Lórien, o segundo, nas moradias do Condado.

Em sua tão grande genialidade, Tolkien criou a linguagem élfica, em A Sociedade do Anel, Galadriel utiliza-a em seu canto:

Ai! laurie lantar lassi surinen,
yeni unotime ve ramar aldaron!
Yeni ve linte yuldar avanier
mi oromardi lisse-miruvoreva
Andune pella, Vardo tellumar
nu luini yassen tintillar i eleni
omaryo airetari-lirinen.

Si man i yulma nin enquantuva?

An si Tintalle Varda Oiolosseo
ve fanyar maryat Elentari ortane,
ar ilye tier undulave lumbule;
ar sindanoriello caita mornie
i falmalinnar imbe met ar hisie
untupa Calaciryo miri oiale.
Si vanwa na, Romello vanwa, Valimar!

Namarie! Nai hiruvalye Valimar.
Nai elye hiruva. Namarie!

Em A Sociedade do Anel, primeiro volume da trilogia, conhecemos o personagem principal Frodo, em sua longa jornada para destruição do Um Anel que daria poder ao Senhor do Escuro, Sauron, que por sua ganância por poder, tornou-se o pior inimigo dos elfos, homens e hobbits.

A Trilogia, veio como continuação de O Hobbit, primeiro livro escrito por Tolkien trazendo a vida dos hobbitis do Condado. Mas não necessariamente deve-se lê-lo antes da trilogia. Eu, particularmente, durante a leitura de A Socidade do Anel deixei alguns detalhes passarem desapercebidos, mas nada que tenha de recorrer ao O Hobbit primeiramente.

A característica e sentimentos dos personagens são bem construídos. Uma coisa que descobri e que jamais imaginava: hobbitis são medrosos. Frodo é um personagem sem iniciativa no início. São raras suas atitudes de heroi:

—Levarei o Anel - disse ele - Embora não conheça o caminho.

A grande dificulade durante a leitura e do próprio entendimento, são os diversos lugares e personagens citados:

— Ele é Aragorn, filho de Arathorn — disse Elrond —, e descende, através de muitas gerações, de Isildur, filho de Elendil, de Minas lthil. É o chefe dos dúnedain no Norte; poucos restam agora desse povo.

Agora se você quiser entender toda a genealogia do mundo de Tolkien, leia Silmarillion, uma espécie de apêndice criado pelo autor. O livro na verdade é mais direcionado aos aficcionados por J.R.R. Tolkien, pois a leitura é maçante, com raros diálogos e com uma infinidade de nomes e lugares estranhos. Conselho: leia a trilogia primeiro, prepare-se pelo que está por vir, acumule dúvidas e depois parta para esse livro. Algo interessante incluído em Silmarillion, é a história de Sauron.

Outro ponto que torna a leitura mais cansativa, são as músicas cantadas pela Comitiva do Anel, durante toda a jornada descrita no livro. Eles cantam para comer, para dormir, para andar, para descansar, quando descobrem novos lugares, na alegria, na tristeza e por aí vai. É legal? É se você sabe cantar as canções, agora lê-las sem as conhecer requer um pouco mais de paciência.

Frio haja nas mãos, no coração e na espinha,
e frio seja o sono sobre a pedra daninha:
que nunca despertem de seu pétreo leito,
nunca, até a Lua morta, até o Sol desfeito.
Ao soprar o negro dos ventos os astros vão morrer,
e eles sobre o ouro ainda irão jazer,
até que o lorde escuro sua mão soerga
sobre o mar morto e sobre a terra negra.


A Sociedade do Anel também guarda momentos de muita tensão com as criaturas tumulares, os pântanos mortos; ainda com toda a milimétrica descrição feita pelo autor. Haja fôlego.

— Não! — disse Frodo; mas não fugiu. Os joelhos enfraqueceram, e ele caiu no chão. Nada aconteceu, e não houve nenhum ruído. Tremendo, Frodo olhou para cima, em tempo de ver uma figura alta e escura, como uma sombra contra as estrelas, se inclinando sobre ele. Pensou ter visto dois olhos, muito frios, embora iluminados por uma luz pálida, que parecia vir de alguma distância remota. Então alguma coisa o prendeu, mais forte e mais fria que ferro. O toque frio congelou seus ossos, e ele perdeu os sentidos.

O primeiro livro da trilogia foi publicado em 1954, e uma adaptação para o cinema foi lançada em 2001, pelo diretor Peter Jackson, que dirigiu os dois filmes seguintes: As Duas Torres e O Retorno do Rei. Ganhador de vários Oscars, O Senhor dos Anéis se tornou um dos melhores filmes da história contando a adaptação, dificílima de se fazer e que na qual muitos fãs subestimaram.

Se você tiver a oportunidade de ler a trilogia, sinta-se um privilegiado. Um épico pra vida toda.

Três Anéis para os Reis-Élficos sob este céu,
Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores,
Nove para Homens Mortais, fadados ao eterno sono,
Um para o Senhor do Escuro em seu escuro trono
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.
Um Anel para a todos governar,
Um Anel para encontrá-los,
Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los
Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam.