Is this the real life? .-.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

Amor suicida

Por @ Ligiane em sábado, fevereiro 20, 2010 1 comentários alheios
Todo o tempo em que eu estivera em Paris, ficara contando os dias para voltar a Londres.

Sentia saudade da magnitude de meu país, do frio, do chá diante da lareira que crepitava jogando torrões de carvão por toda a sala. Estava imaginando minha estadia acalorada de regresso, sentado em um assento desconfortável de trem. Observava as imagens que corriam através da janela, conforme o movimento ágil da locomotiva. Fechei os olhos e adormeci.

Era cheiro de erva doce, um perfume suave. Fiquei tão extasiado com o aroma, que continuei de olhos fechados para que o perfume que invadia minhas narinas ressaltasse ainda mais sua doce essência. Fiquei ali, exalando aquele perfume estonteante, como um perfumista que testa sua mais nova criação.

Abri os olhos e como um rastro perfumado, a essência de ervas levou meu olhar a uma donzela que conversava com uma senhora. Ela tinha cabelos rubros presos em uma trança envolvida em fios dourados e trajava um vestido longo, de um vermelho escuro que contrastava com seus cabelos. As mangas longas eram de rendas pretas e um espartilho prendia o vestido a sua cintura. Foi tudo o que pude ver; pois a donzela misteriosa, dona daquele perfume, estava de costas.

Em torcidas frustradas para que ela se virasse e eu pudesse contemplar seus olhos,a tal senhora a arrastou pelo braço, vagão a fora. Ah, como eu queria vê-la! Perguntar seu nome, conversar com ela, saber o que estava acontecendo.

Segui viagem atormentado em saber que a dona do perfume mais estonteante e dos cabelos mais lindos que já vira, estava a alguns vagões a minha frente.

O solavanco da locomotiva avisou aos passageiros que já haviam chegado à estação de desembarque. Apanhei minhas malas, pousei meu chapéu sobre a cabeça e saí cortando a multidão que desembarcava, na esperança de encontrar a Donzela Misteriosa. Sim, foi assim que decidi que a chamaria enquanto não soubesse seu nome.

Desci na estação, e através de tantas pessoas que se abraçavam num afago de boas-vindas, um brilho vermelho se destacou adiante. Os raios de sol refletiram nos cabelos da Donzela Misteriosa que caminhava em direção a um carro, acompanhada pela senhora e por um homem de aparência muito distinta.

Corri numa tentativa de aproximação, mas a Donzela Misteriosa partiu naquele carro. De repente algo brilhou na beira da calçada. Curvei-me e apanhei o que era um lenço branco com uma pequena rosa incrustada de pedrinhas vermelhas. Era dela, eu tinha certeza. Tinha o cheiro dela, o destino não fora tão cruel, ao menos me deixara uma lembrança. Guardei o lenço na lapela e segui andando.

Minha casa estava do mesmo jeito de como quando parti há três anos. O cheiro de ambiente fechado matava a minha saudade daquele lugar. Joguei as malas pela sala e abri as janelas para deixar o sol dar as boas vindas.

Atirei-me no sofá, arranquei os sapatos e fiquei a contemplar aquele lenço, carregado do aroma da Donzela Misteriosa. Como era bom voltar a Londres!

No dia seguinte, o jornaleiro deixou o jornal do dia na soleira da porta. Fui pegá-lo segurando uma xícara de café e, com um baque surdo, deixei a xícara cair ao chão espalhando café e cacos de porcelana por toda a sala.

O quê deixara-me tão extasiado, a ponto de ficar quase um minuto sem dizer uma palavra, de olhos fixos na primeira página daquele jornal? Nada mais que uma manchete que ganhara primeira página dizendo em letras garrafais:

 As Nobrezas Se Unem

 E logo abaixo uma foto de um rapaz distinto ao lado de uma donzela. Ele tinha certeza, era ela, a Donzela Misteriosa, com o mesmo sujeito que a acompanhara de carro, na estação. Mesmo a fotografia sendo em preto e branco, ele jamais poderia confundir aqueles cabelos trançados em fios.

Não trazia o nome dela, apenas a tratava como filha de um dos mais ricos da alta-sociedade londrina.

Ela iria se casar, amanhã, ao final da tarde. Como numa evasão de esperança, meus sonhos com a Donzela Misteriosa morreram. Caí sentado sobre o sofá, ainda contemplando a fotografia. Agora eu podia vê-la, seus olhos eram doces, mas uma sombra de tristeza parecia despontar de seu olhar piedoso. Amassei o jornal e joguei-o sobre uma pilha de livros que permanecia a um canto da sala.

O dia pareceu correr, anoiteceu, amanheceu. Chegara o dia em que meu pior pesadelo iria se tornar realidade. O lenço ainda tinha um lugar especial em minha lapela, refletindo suas pedrinhas vermelhas que davam forma a uma pequena rosa.

A tarde foi caindo num crepúsculo que tornou o céu num rubro amarelado. Fiquei inquieto, mas ao mesmo tempo conformado com o casamento da Donzela Misteriosa; afinal, eu nem a conhecia. Como pude me apaixonar por uma pessoa que nem ao menos sabia de minha existência, que até  pouco tempo atrás eu só conhecia pelos longos cabelos vermelhos, trançados em fios dourados?

Quem eu queria enganar? A mim mesmo? Apanhei o chapéu e segui para o grande salão onde aconteceria o casamento. O som de uma orquestra já se mostrava do outro lado da rua. Eu estava disposto a esquecê-la, mas antes queria vê-la pela última vez, queria ver a cor de seus olhos.

Atravessei a ruela de acesso aos fundos do grande salão. Havia uma janela de vista estratégica para a festa, mas era demasiada alta para mim. Então, lembrei-me de que logo mais a frente havia um caixote velho pousado sobre uma árvore; fui correndo pegá-lo, quando na volta, deparei-me com uma senhora puxando o braço de uma senhorita aos prantos. Era ela, eu tinha certeza. Escondi-me atrás de um carro estacionado bem perto da Donzela Misteriosa e ouvi a conversa.

Ela não queria se casar estava decidida a fugir daquele casamento, mas a senhora que a pressionava, dizia algo sobre honrar a família e então adentraram ao salão.

Então era isso o tempo todo, por isso ela estampava um olhar tão triste naquela foto de jornal. Não, o destino não poderia ser tão injusto.

Ajeitei o caixote logo abaixo da janela e subi sobre ele, agora podia ver tudo, inclusive a Donzela Misteriosa de olhos verdes. Essa era a cor de seu olhar. Eu queria poder fazer algo, gritar, invadir o salão e carregá-la para fora dali, pedir para que ela fugisse comigo, mas de nada adiantaria, o que é um pobre contra uma nobreza?

Ah, como eu queria que ela soubesse que eu conhecia seus sentimentos, sua dor, seu ódio, o desespero que afugentava sua alma. Sentia-me mal comigo mesmo por não poder ajudá-la.

De repente uma movimentação começara dentro do grande salão, a Donzela Misteriosa saíra porta a fora, correndo, segurando a barra de seu vestido. Logo atrás dela, a senhora, que a obrigara a se casar, se martirizava em gritos. Tamanha minha surpresa, saí correndo atrás dela, pelas ruelas londrinas.

Depois de cinco quadras correndo atrás da Donzela Misteriosa, perdi-a de vista. Fiquei alarmado, irrequieto procurando-a pelas esquinas e vielas. Mas uma corrente de ar frio me trouxe um perfume doce, que cheirava a ervas. Fui seguindo aquele doce aroma, até chegar a uma estrada de terra, arborizada.

Trilhei o caminho, sendo conduzido por aquele aroma, quando vi aqueles cabelos rubros esvoaçando, soltos da trança, e lá estava ela, a Donzela Misteriosa, se jogando de um penhasco, de braços abertos, sendo tragada pela escuridão como uma marionete. 

Não consegui gritar, fiquei ali, parado, vendo-a desaparecer nas trevas; era como se meu mundo tivesse estacionado, como se todo meu ar tivesse sido extraviado. Logo na extremidade do penhasco, havia uma rosa, assim como aquela do lenço, incrustada por pedrinhas vermelhas.

Ajoelhei-me na beira daquele local que se tornou cenário de meus pesadelos, arranquei o lenço de minha lapela e joguei-o para junto da escuridão do penhasco.

Perdi meu ar, perdi meu chão e a Donzela Misteriosa, que nem ao menos pude saber o nome.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Percy Jackson e "As Três Pérolas"

Por @ Ligiane em terça-feira, fevereiro 16, 2010 0 comentários alheios
Não, você não leu errado. Não, é esse filme mesmo que você está pensando. Columbus CONSEGUIU que as três pérolas roubassem a cena do raio mestre.

SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER- SPOILER

A Fox não tem uma fama muito boa em matéria de adaptações; na lista temos X-Men, O Quarteto Fantástico, Elektra, Demolidor e por aí vai, difícil saber qual o pior, mas penso que Demolidor ganha. Então, quando se recebe a notícia que aquele seu livro preferido vai virar filme, pode tremer na base.

Na busca em trazer um sucessor a Harry Potter, já que a franquia está no fim, a indústria cinematográfica apostou todas suas fichas na história do garoto que descobre ser filho de um deus grego, mas, como diz o ditado, quem se apressa come cru. Há, e foi isso que aconteceu com a história de Rick Riordan: Percy Jackson e O Ladrão de Raios.

'THIS IS A PEN'

Ok, aí você pode pensar assim: mas a mídia é diferente, o filme vem pra reproduzir o livro da forma mais ágil possível, não tem como colocar 300 páginas em duas horas de filme. Sim, eu entendo, mas coisas simples como atores um pouco mais jovens, - aquele Grover parece estar beirando uns 27 anos - uma Annabeth loira, uma caneta de destampar e não de clique. Acho que isso não custa tão caro.

'MY FATHER IS POSEIDON!'

Para descobrir que o Percy é filho de Poseidon, eu tive que ler oito, OITO capítulos de mais ou menos umas dez páginas cada. Já no filme, Percy descobre logo de cara quem é seu pai misterioso, perdeu a magia. Em uma cena desnecessária em que Percy está conversando com Quíron, o mesmo menciona a ele sobre Poseidon, pra depois vir o campeonato das bandeiras e ele armar uma lutinha tosca de espadas com a Annabeth BITCH, uma típica cena de te odeio mas te amo e captura O POMO DE OURO a bandeira.

- Meu pai? - perguntei completamente perplexo.
- Poseidon - disse Quíron - Senhor dos terremotos. Portador das tempestades. Pai dos cavalos. Salve Perceu Jackson, filho do deus do Mar.

Diálogo de arrepiar, acabaram com isso no filme. (fail)

'PERCY JACKSON, WE NEED TO TALK!'

Se a Fúria não iria mais aparecer ao longo do filme, me diz: por que ela não foi destruída e transformada em pó, como no livro? A criatura fugiu esganiçada pela janela. Ponto negativo para Chris Columbus.

'PO-PO-PO POKER FACE PO-PO POKER FACE!'

E até no cinema a Lady Gaga saiu na frente da Ke$ha. Enquanto Poker Face ganhou umas três tomadas tocando bem alto, Tik-Tok ganhou um espacinho bem pequeno, já estava no refrão inclusive, na cena em que um grupinho dançava num canto, coisa de uns 20 segundos. Bem top essa trilha sonora, não é? (em tom de ironia). Tiveram que se render a Lady Gaga, para trazer sucesso ao filme, aproveitando a decolagem da fama da cantora.


Hades, ou melhor, Mick Jagger, não, Zé Ramalho, ACHO QUE ESTAVA MAIS PARA RAUL SEIXAS ou como queira dizer a dublagem brasileira, foi uma decepção. Ser derrotado por uma... deixa pra lá. Aí, Perséfone dá de mão beijada o SABRE DE LUZ raio mestre para o Percy e se aproveita de Grover.

Desculpem-me quem discorda, mas eu ri da Uma Thurman, como Medusa, correndo atrás dos protagonistas, porque, pôxa, ela é UMA THURMAN. KILL BILL

Voltando um pouco a história, no filme Percy é autodidata em espadas e com seus próprios poderes, SÓ PODE SER. Incrível como ele aprende rápido a manusear o escudo, Contracorrente e a própria água. Um furo imenso de personagens, o que comprova que foi mal trabalhado. Columbus fez melhor em Harry Potter.

Um grande erro, Percy JAMAIS poderia usar os ALL STARS tênis voadores que Luke o deu, pois Zeus é o deus do ar e isso poderia o causar problemas. Bom, no filme isso não foi problema nenhum, já que Percy os utilizou perfeitamente. JÁ QUE NÃO TEM VASSOURA, VAI DE TÊNIS.

Ares foi substituído por Luke e não deram muita ênfase a Hades, porque o verdadeiro vilão da história é Cronos. E isso ficou mal explicado para quem não leu o livro. Os personagens foram mal lapidados e o contexto mal trabalhado. O curioso é que Percy e Annabeth ficaram mais surpresos ao ver a Hidra do que quando souberam que o verdadeiro ladrão da história era Luke.

Onde foi parar Thalia? Não, eu não estou falando daquela cantora mexicana; estou falando do pinheiro da montanha próxima ao Acampamento-Meio-Sangue. Aí já dá para perceber que se houver uma continuação, vão explicar toda a história de Thalia em O Mar de Monstros, naquela coisa espremida, forçada, para explicar tudo de uma vez ao espectador que não leu o livro.

ZEC EFRON? NÃO, É LOGAN LERMAN!

Daí, podem me perguntar: foi tão ruim assim? O filme não teve nenhum ponto positivo? Aí eu posso responder: não seja por isso, teve um grande ponto positivo; o Logan Lerman é LINDO simpático , pra quem gostou dele em Efeito Borboleta, vai gostar dele em Percy Jackson também. Pierce Brosnam fugiu do clichê de seus personagens, Quíron deve ter sido uma experiência interessante para o ator. A propósito, o Logan é a cara do Troy, ou melhor, do Zac Efron. É como diz Grover (no filme): É High School Musical, sem o Musical.

Foi um filme muito corrido, desesperado para conquistar o público, criar um fandom fiel. É uma boa história, pena ter sido feita uma releitura para o cinema. Jamais terá potencial para substituir Harry Potter.

Bom pra se divertir.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Bilhete

Por @ Ligiane em sexta-feira, fevereiro 05, 2010 1 comentários alheios
Leia ouvindo:

O relógio da mesa de cabeceira marcava sete horas, ela puxou as cobertas até o pescoço e se encolheu na forma de um Z. A névoa da manhã estava fria e a réstia de sol que despertava por entre a janela entreaberta construía um contraste aconchegante entre frio e quente; uma mistura convidativa a se ficar mais umas horinhas sob as cobertas.

Fechou os olhos com força, porque o que ela queria, de verdade, naquele momento, era que aqueles sonhos impossíveis, mas envolventes, retornassem com a força da rebentação de uma onda. Estava tentada a esconder-se de si mesma atrás daquilo que a sua mente criava com perfeição enquanto dormia. Talvez nos sonhos ela pudesse fazer o contrário do que ela realmente era, ter o que ela não tinha, amar sem ser condenada, compartilhar segredos com alguém sem correr o risco de ser traída, ter experiências malucas e o melhor de tudo é que ninguém iria saber, porque o sonho é um mundo criado por aquele que o tem, uma atmosfera particular, que guarda os medos, os desejos e os sentimentos de alguém; o lado mais surreal e significativo da mente humana.

Mas arrastar-se para um mesmo sonho é como querer reverter o passado, voltar o ponteiro do relógio e fingir que nada aconteceu. Na sensação frustrada daquele que não consegue mandar em seus próprios sonhos, ela levantou-se e foi em direção a janela. Lá fora, o céu se mostrava em um azul celeste com o balé do movimento lento das nuvens, formando figuras disformes no infinito; o sol já brilhava com força refletindo seus cabelos castanhos num tom avermelhado, as calçadas estavam cobertas por um tapete feito de folhas que despiram as árvores no balanço do vento de outono. Puxou as cortinas até o canto das paredes e abriu a janela até mais onde não podia.

Logo ali, ao lado da cozinha onde ela se direcionara para pegar uma xícara de cappuccino, a sala conservava os vestígios de um encontro entre amigos do dia anterior. Três garrafas de champanha e cinco taças estavam pousadas sobre a mesa de centro, alguns DVDs de clássicos do cinema permaneciam espalhados pelo chão perto da televisão, cobertores amarrotados pelo sofá e uma caixa redonda que deixara vazar algumas fotos pelo tapete decorado.

Recostando-se na estante da sala, ela olhara para aquela desorganização boa. Boa no sentido de que guarda a união de cinco grandes amigos. A noite passada fora especial; um encontro para reunir os cinco inseparáveis da época do primeiro ano da faculdade. Tempos em que estavam transitando para uma nova fase de suas vidas, começando a crescer. Agora eram cinco adultos cheios de responsabilidades, que se encontravam para dividir suas experiências, suas aventuras.

Segurando a xícara com as duas mãos, ela fora se embrenhar nos cobertores embolados sobre o sofá, quando avistou dentre as fotografias caídas da caixa, uma em especial. Ficou ali, parada, olhando a foto por alguns segundos antes de reclinar-se para pega-lá.

Na foto amarelada pelo tempo, uma garota de cabelos castanhos, até aos ombros, olhar doce e vestida de um cashmere de tricô rosa, abraçava um jovem alto, bonito, de olhos verdes, elegantemente vestido de pulôver preto. E ela continuava ali, olhando a foto, com um meio sorriso estampado no rosto.

Um amor de colegial retratado em uma foto tirada casualmente, num daqueles invernos em que costumavam se encontrar embaixo de uma árvore no alto do morro, onde tinham uma vista perfeita das luzes da cidade.

Pousou a xícara sobre a mesa de centro ao lado das taças sujas de champanha, ajeitou os cabelos, e começou a revirar aquela caixa, que mais era um reservatório de nostalgia. Seus dedos tocaram em algo que parecia um clipe; era uma foto presa a um bilhete. Nela, algo que parecia ser continuação da fotografia que ela encontrara no chão. Os dois jovens riam sob os respingos do chafariz da praça central da cidade. Uma noite perfeita de inverno molhada pelas gotas geladas do chafariz. Arrancou o clipe que prendia o bilhete à foto e desdobrou aquele pequeno papel amassado e desbotado pelos anos.

Em uma caligrafia cuidadosamente floreada, as palavras diziam:

Eu não queria que as coisas terminassem assim, ou melhor, eu nem bem ao certo sei por quê elas terminaram, você não me deu um motivo plausível.
Olha, é o terceiro bilhete que eu lhe escrevo. Os outros dois estão aqui, amassados, rabiscados, porque eu não sabia como lidar com as palavras, assim como você não soube lidar com meus sentimentos; você simplesmente os amassou, riscou e mandou-os para o lixo.
Aqui vai uma foto, prova que um dia eu fui feliz com você. Eu poderia ter tido mais coragem, indo falar diretamente contigo. Eu sei. Mas sinto-me mais forte escrevendo, o papel não leva as lágrimas que derramo agora, você não precisa me ver chorar.
Aproveitei quando você deixou seu caderno sozinho sobre a mesa durante o intervalo das aulas e coloquei este bilhete dentro dele. Não se preocupe ninguém viu e, por favor, ao menos o leia e reflita. Agora é sua vez de pensar, porque eu já estou cansado de pensar em você.

Uma lágrima começou a escorrer-lhe pelo rosto enquanto ela passava seus olhos sobre aquelas palavras. Ter a capacidade de ser absorvida pelo mesmo sonho ela queria, mas não pelo passado. Afastou as cobertas, secou as lágrimas, amassou o bilhete com uma das mãos e rasgou a foto no meio. A culpa não era dele, eles se separaram por motivos dela, somente dela.

Deitou-se no sofá e fechou os olhos, absorta em seus pensamentos.