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sábado, 14 de novembro de 2009

701

Por @ Ligiane em sábado, novembro 14, 2009
Naquele dia vi meus planos de férias de verão irem por água abaixo junto com o show do The Furious.

The Furious era a banda do momento, não havia nenhum indivíduo da escola que não soubesse pelo menos uma música dos caras. Eu tinha os treze cds deles e mais alguns pôsters que eu ganhei no ano passado de brinde, por ser o primeiro a chegar para comprar os ingressos do primeiro show que eles fizeram aqui na minha cidade. Colei-os todos nas paredes do meu quarto, até que um dia minha mãe ameaçou de jogá-los fora, depois que minha avó foi parar no hospital ao ver o pôster mais style que eu preguei atrás da porta. Bom, eu avisei que não era bom ela entrar lá...

Mas nada poderia resolver meus problemas, ou eu escrevia uma redação para recuperar minha nota, ou ficava de recuperação as férias inteiras, inclusive na sexta-feira que eu não poderia perder. Passei dois dias tentando descobrir qual a diferença entre narração e poesia, até entender o porquê que a professora não me deixara fazer a segunda opção; iria ser bem mais fácil, eu até poderia pegar algumas rimas das melhores músicas do The Furious, tipo aquela que tem um refrão incrível rimando morte com sorte. Achei que a professoria iria gostar.

Depois de descobrir o que seria uma narração, vi que, se a humanidade dependesse da minha criatividade, nós seríamos seres em extinção. Busquei ideias em tudo quanto é coisa, até consultei o site oficial do The Furious, algo que me ajudara bastante, pois peguei, digamos emprestado, o nome dos integrantes da banda para batizar meus personagens.

Mas como eu iria começar a escrever? Bom, 'Era uma vez' seria um bom início de texto; afinal, até 'A Branca de Neve' fez sucesso começando assim. Terminei o primeiro parágrafo de uma linha. Eu deveria entrar para o Livro dos Recordes, geralmente sou obrigado a ler textos em que o parágrafo é quase metade da folha.

Senti minhas ideias travarem a partir da terceira palavra do terceiro parágro, tudo culpa da visinha insolente do andar de cima. Morar em apartamento era uma boa, mas quando se tratava de redação, tudo se tornava um grande problema. Tá certo que eu mantinha guardado dentro de mim meu preconceito contra o pop, afinal de contas toda garota gostava desse gênero podre e eu não poderia me afastar delas por esse motivo. Mas a visinha do 701 passou de todos os limites, derrubando a miniatura de Woodstock de cima do meu guarda-roupa com aquele som horrível ligado no último. Até aí eu não estava decidido a me levantar e ir bater na porta dela, até que ela resolvera mostrar seus dotes de cantora, que por sinal não existiam. Sim, eram minhas férias e meu show de sexta-feira que estavam em jogo.

Fui até meu amontoado de cds e peguei aquela versão ao vivo, em que o The Furious quebra a guitarra no meio do palco. Aumentei no último. Como era bom ter alguns momentos a sós, em casa. Não durou nem três minutos, ela deu-se por vencida e desligou o rádio. Voltei aos meus afazeres.

Naquele momento eu já havia perdido pra sempre o fio da meada e quando eu novamente estava o encontrando, me imaginei destruindo todos os sapatos de salto do mundo. Era incrível como a visinha não sabia o que era ética (tá, eu também não sabia direito o que era, mas sabia que meu pai sempre usava essa palavra naqueles seus monólogos), dessa vez ela devia ter montado uma passarela em pleno quarto, aqueles tocs tocs de passos em salto invadira minha mente para expulsar de vez qualquer vestígio de raciocínio; mas não fui nem um pouco longânimo: frequentei apenas três aulas de baixo, nunca tive paciência com partituras, então, resolvi mostrar a ela meus dotes na música. O barulho ensurdecedor dos acordes resolveu meus problemas. Finalmente terminara minha redação e a ansiedade era a entrega.

Jamais poderia imaginar que professores também possuiam um lado Rock In Roll, nota máxima na redação fora uma consequência disso.

A sexta-feira seria um dos dias mais especiais da minha vida, então resolvi descançar para aguentar o show que me esperava logo mais a noite. Programei o relógio para despertar às seis, tempo de me arrumar e ligar para os amigos, antes de reservar o melhor lugar, de preferência o mais perto possível do The Furious. Eu estava tão ansioso, que nem a visinha do 701 poderia estragar meu dia, até que a mesma acionou aquele som intragável novamente e, dessa vez, não escutei meus roncos, nem o barulho do despertador.

1 comentários alheios:

Isaque Criscuolo on 15 de novembro de 2009 às 06:05 disse...

Mocinha, que texto gostoso de ler. Agora fico me perguntando se o The Furious existe mesmo, mas o Google diz que não. rs.
Espero pela próxima crônica. XD