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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Inércia

Por @ Ligiane em quinta-feira, dezembro 10, 2009
Canvas era a música que me acompanhava por aquele caminho. Liguei o som a um volume agradável; dirigia solitariamente sob uma lua parcialmente encoberta pelas névoas que esbranquiçavam as coníferas que circundavam aquele caminho.

Deixei-me levar pelo som, podia eu até distinguir os acordes diferentes, a harmonia da sintonia, as vibrações inteligentes que beneficiavam minha existência; minha alma insistia em acompanhar o ritmo envolvente do conjunto de notas que compassavam a música perfeita. Era como um drogado se satisfazendo do seu mais repugnante ópio. O êxtase momentâneo me tomara, meus olhos adormeceram.

Por um momento, um ensurdecedor estampido ivadira meus ouvidos, senti uma fincada bruta que atravessara meu cérebro, meus sentidos desapareceram, senti uma inércia vinda de meu corpo. Uma força me obrigara a permanecer imóvel, um líquido quente e estranho entrava em contato com minha pele sensibilizada pelo choque que me delirara. Permaneci conforme meu todo implorava.

A luz cortante do sol quebrara a escuridão dos meus olhos. Senti uma força maior me puxando, minhas vistas não deixavam-me ver nada mais que borrões coloridos e frenéticos que me rodeavam e balbuciavam palavras longe da capacidade de minha mente trabalhar o significado.

Só sei que nada sei. Foram sucessões de acontecimentos ilegíveis, pude ver as árvores aparecendo e desaparecendo de forma rápida por entre... as janelas de um carro em movimento? Sim, fora uma das únicas coisas que distingui. Era um tipo de carro grande, que se movia em alta velocidade, seu interior era reconfortante, inexplicavelmente diminuía a dor cortante que atravessara minha cabeça, devido a estranha forma imobilizada que meu corpo permanecia.


O clarão deixara meus olhos, um entorpecimento se acomodara em meu ser. Senti impulsos descontrolados e uma energia estranha vinda de um choque profundo no lado esquerdo de meu peito. Era um lugar estranho, onde vultos brancos se movimentavam freneticamente; por um momento pensei estar sonhando com anjos, mas minha avó sempre me dizia que em sonhos não sentimos dor, o nosso psicológico cria situações em que temos medo de enfrentar.

O pouco que meus olhos abriram, permitiu com que me deparasse com uma alta janela que servia de palco para o espetáculo incrível dos cristais de gelo das coníferas sendo derretidos pelos raios solares; e transformados em pequenas gotículas de água que chuviscavam os pássaros que por ali sobrevoavam.

Um zumbido indefinido invadira meus ouvidos, o meu eu tornara-se novamente inerte, o ar que percorria meus pulmões fora extraviado, uma retenção por entre minhas vias me tomara, uma dor na extremidade esquerda de meu peito corroia-me de tal forma que nunca dantes sentira em toda minha vida. Minha alma desfalecia, meu corpo fora despojado de calor, mas não sentia frio, todos os sentidos adormeceram, as luzes desapareciam gradativamente. Não, eu queria continuar a olhar aquelas árvores, aquele espetáculo da natureza que me privilegiava, mas cada imagem se esvanecia, não podia relutar, não era fraqueza, era uma inércia que me confrontava, já não sentia mais dor, nem qualquer tipo de sentimento.

Meus olhos tornaram-se em trevas.


Canvas, a música citada logo no início da crônica, é um dos melhores singles da cantora Imogen Heap. Experimente ler Inércia, ouvindo-a e verá porque tanto me inspirou em escrever esse texto.




1 comentários alheios:

André Wynne on 10 de dezembro de 2009 às 05:44 disse...

Que post mais... dumal. E belo, ao mesmo tempo. Gostei.