Is this the real life? .-.


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Olhar Fixo

Por @ Ligiane em terça-feira, setembro 15, 2009
Vinha eu caminhando a passos brandos sobre as calçadas das ruas paralelas da cidade, apenas carregando um surrado exemplar de "Hamlet", um antigo relógio de bolso e um velho chapéu preto sobre minha cabeça, no qual resguardava-me dos intensos raios de sol.

Quão bom era sentir a brisa tocando minha face! Parecia que o mundo havia decretado um dia somente meu, e que no qual eu deveria valer como se fosse o último... Se eu morresse ali, naquele momento, eu morreria feliz.

Enfiei o livro sob meu braço, meti as mãos em meus bolsos costurados e continuei a prosseguir lentamente por aquelas vias que ainda guardavam os vestígios da agitação do dia-a-dia intenso. Era mais um daqueles domingos fastidiosos.

Parei atentamente frente a frente a um imenso outdoor que trazia uma chamativa mulher de cabelos rubros, estrela da propaganda de cosméticos. Li cuidadosamente cada palavra nele escrito. Tinha o enfadonho hábito rotineiro de ali passar a caminho de meu trabalho, mas nunca, nunca dei-me a notar aquele imenso quadro publicitário estampado diariamente sobre as pessoas que por aquela mesma calçada passavam.

Virei-me a prosseguir, tropecei num buraco inconveniente e desequilibrei-me fazendo com que meu corpo se contorcesse de uma forma estranha. Recuperei o equlíbrio, ajeitei o chapéu que permaneceu a um triz de cair de sobre minha cabeça, mas meu "Hamlet" foi ao chão. Curvei-me, alcei o livro, limpei-o de qualquer sujeira relativa a queda e voltei-o sob meu braço direito balbuciando algumas palavras pejorativas aos responsáveis por deixar permanecer aquele empecilho em via pública.

Permaneci andando auspiciosamente, poderia eu até contar os ladrilhos do chão. Talvez a agitação de todos os dias fizeste-me cego quanto às coisas ao meu redor. Nunca dei-me ao prazer de reparar a quão bela e magnífica paisagem que a praça em frente ao Café guardava. Três grandes Ipês adornavam-a com suas lindas flores amarelas.

Sentei-me no banco à sombra, despi-me do chapéu descansando-o ao meu lado e pondo meu "Hamlet" sobre ele.

Por um momento pensei ter ouvido alguém pronunciar meu nome, mas naquelas ruas mortas, nada havia além de mim e... eu mesmo.
Peguei meu livro e tornei-me a ler o capítulo que deixei pela metade, talvez aquela fosse a parte que se revelassem os segredos das personagens principais. Senti minhas vistas se cansarem, então pousei o livro novamente, aprumei-me largadamente no banco e fechei meus olhos. Pude sentir o aroma intenso que aquelas flores exalavam.

Mergulhei num êxtase momentâneo. Houve uma longa pausa.
Repentinamente, como se uma força maior tivesse me puxado, despertei, meti os olhos no relógio, recolhi meu livro e chapéu colocando-o sobre minha cabeça e parti sob uma incrível luz do luar, acompanhada por uma indescritível constelação.

"As estrelas que brilhavam lá, não brilham em nenhum outro lugar".

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